domingo, 20 de dezembro de 2020

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

eu vou embora daqui

A cidade ilumina o que dentro adormecia e não sabia existir com tanta força, pede pra viver mais um pouco e contar nos dedos o tempo que falta. Com uma dose de realidade e vício como quem aguarda com dignidade eternizar aquele sábado em que tudo ia bem.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

rodoviária

Fica mais um pouco sem inventar desculpa. A vida é muito curta pra pensar demais. Repetia essa mentira na minha cabeça na esperança de te convencer que o que me trouxe aqui foi mais do que a sua risada e minha vontade de fazer tudo diferente. De novo.

te vi colhendo as flores

Eu vi você se reiventar, colhendo desde as raízes tudo aquilo que te prende e não deixa ser viva. Te vi cuidando sem ressentimentos das suas últimas certezas, e mesmo que você não possa explicar o que se passa na superfície, e mesmo que teu corpo queira que você pare, te vi seguindo e se livrando daquilo que não seria nada além de orgulho.

sábado, 1 de agosto de 2020

saudade tem nome do que você dá

Soletrei o teu nome quando eu acordei pedindo mais uma vez pra minha alma se alcalmar e expliquei que não dá mais pra sonhar em fazer tudo diferente. 


quarta-feira, 29 de julho de 2020

tudo que eu odeio repetir na mente que você já me disse algum dia


Quando eu morrer fica com as vírgulas, aquelas que enquanto eu te contava uma história você respirava e contemplava a beleza de cada palavra que saia da minha boca seca e com sede de vida, não quero flores, não quero lágrimas, quando eu morrer, admira a beleza do seu olhar no espelho que é onde vai me encontrar. 
Tudo que fica será a nossa energia, porque depois de muito tempo entendi que não é um momento que se aguarda durar pra sempre que nos faz ser eternos, fica tudo na superfície, no cotidiano que não se vê, naquilo que não se dá importância, no som da voz, no vento, na música tocando na rádio, no carro que anda devagar, no copo que enche na mesa e no momento que se brinda, aquilo que desperta a alma e flui. Vai com calma e só respira, se você tem algo de sagrado é sua respiração. 
Te falo isso porque eu fiz as malas e fui embora, desempacotei as roupas e o desejo de me tornar aquilo que via no imaginário, a rotina e o despertador, o café da manhã atrasado, as responsabilidades que exigem maturidade e um certo egoísmo de quem não escuta o coração. 
Quando me vejo observando na janela o som dos carros, penso na filosofia que tenta explicar nossa existência, e já não parecia mais a época certa pra se fazer planos, já não parecia mais o dia certo pra encontrar alguém, e nem de nutrir o vício por aquilo que não existe no agora.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

um objeto no céu

Eu ando sozinha na rua e nunca espero nada de extraordinário. Observo a capacidade de tudo se mover mesmo quando em mim tudo permanece parado. E também os detalhes das calçadas, das paredes, das portas e dos carros. Em uma cidade as pessoas valorizam a companhia, a conversa e o compartilhar das coisas. Quando se passa muito tempo no silêncio e na provocação de mudanças e de futuros desajeitados, é muito difícil voltar.
E no verão quando eram oito da noite, não tinha vento e nem luz na rua, e enquanto as crianças brincavam sem inalar fumaça nos seus pulmões e sem ao menos ter uma ideia do privilégio que era estar ali.
Por muito tempo moldei meu personagem e acreditava que se valorizasse minha aparência as pessoas poderiam ver o melhor em mim. Acreditei que se pudesse falar um pouco de cada livro ou assunto as pessoas acreditariam que eu estava sempre ocupada.
Acreditei que se conquistasse a pessoa certa eu poderia conhecer tudo que jamais imaginei merecer. Faz pouco mais de dois anos que me deparei com uma total falta de bom senso e realidade. Passei a me preocupar menos com o que eu falo e inutilmente moldei uma nuvem de total escassez. Falta da alma, falta de memória. 
De vez em quando me ocupo com situações inusitadas. Cartas de tarot, lugares mágicos, e passagens compradas... Aí eu acordo de madrugada com um vazio maior ainda e fora do meu corpo. 
O que tem de mais incrível na humanidade e o que eu mais admiro é a capacidade de acreditar, de não pensar muito e só fazer o que te falaram pra fazer, a capacidade de sentar em uma cadeira e lidar com papéis e reuniões, encontros, conversas e a capacidade de praticar exercícios, de contar os prazos e obedecer horários. 
Um fato é que não lembro da maioria das coisas que eu deveria me lembrar, e que eu ainda busco conselhos e respostas enquanto me afasto de tudo e me acho no direito de culpar todos. 
O meu egoísmo me assusta, minha tristeza me assusta, meu fingimento de que tô superando tudo e que o universo vai fazer algo por mim me assustam. E eu não queria sentir inspiração enquanto penso em desistir.